quarta-feira, 24 de março de 2010

Peco em trecho

Peco, peco porque sou vadia. Porque fumo, bebo, grito, choro, desespero, enlouqueço, esqueço, guardo, deixo, finjo. Por tudo peco.
Peco pelo ridículo, pelo estranho, pela aparência, pela negligência, desistência, pela paciência.
Onde é que vou me perder? Pra onde é que vou me levar?
Peco, peco, peço, me deixe pecar. Não há nada de errado comigo, não há nada. Há tudo, tudo existe dentro de mim. Tudo pode existir.

segunda-feira, 8 de março de 2010

A vaidade é mulher

Se você fechar os olhos e eu soprar no seu ouvido a palavra vaidade, o que é que você visualiza? Um homem elegante, penteado, arrumado? Tá bom. Sei bem que o que vem em sua mente é uma mulher. Talvez nua, sentada de lado, penteando os cabelos. Talvez em pé, olhar fixo no espelho. Mulher.
A vaidade é feminina, é do mundo delas. É aquela coisa que não se contém e grita. Há quem a confunda com orgulho, ledo engano. O orgulho, homem da relação, é aquele que calado admira seus feitos. A vaidade demonstra, alegra, instiga. Sem querer, tira o sono da inveja.
Mulher é assim: não se contém. Seja na dor, na alegria, no ciúme ou na beleza. Mulher quer mostrar, seja brilho ou lágrimas nos olhos.
Reconheço que há as mais contidas, mas nunca vi mulher que não chore, mesmo sozinha, num canto. Não há mulher que não sorria ao estar feliz. Mulher transborda.
E quando a beleza não cabe no peito, precisa transbordar em cores, olhares, cabelos e vestidos. É aquele jeitinho de amenizar as tristezas, de deixar tudo suave, de fazer o dia ser bonito. O orgulho da vaidade é ser mulher. O mundo agradece.

A luxúria tem a forma de uma mulher...

E isso não pecado.

Eu não poderia ter outro corpo, nem outros contornos. Porque só uma mulher consegue escrever nas próprias curvas o que realmente procura e o que realmente quer.

Eu tenho seios, de todos os tamanhos, porque só os seios de uma mulher conseguem responder que sim (ou que não) a um toque. Porque os seios não vão saber mentir, nem quando os olhos se esforçarem para isso.

Eu tenho a forma de uma mulher nos meus cílios, mais longos, mais bonitos e que sabem o momento certo de diminuir ou aumentar a velocidade com que piscam. Eu sou mulher nas minhas sobrancelhas que contornam meus olhos e devolvem, como um tiro, qualquer indignação que venha de encontro ao meu rosto.

Eu sou a cintura de uma mulher que se aceita na condição de cintura, o lugar onde as suas duas mãos repousam e me conduzem, sem saber que na realidade são conduzidas e que eu, como mulher, sei lançar mentiras carinhosas para povoar os seus sonhos e melhorar as minhas noites.

Eu sou mulher nas minhas unhas, porque a Luxúria precisa arranhar e deixar marcadas as costas de quem deixá-la de costas e de frente para o mundo. Eu sou mulher na maciez do meu corpo, dos meus cabelos, no cheiro das minhas pernas e do meu suor. Sou mulher da mancha que eu deixo nas pessoas, de batom, de saudade, de desejo. Eu sou mulher em todas as terminações do meu corpo que trabalham juntas pro meu e pro seu prazer e não se esquecem e nem se abandonam.

Eu sou mulher em orgasmos múltiplos. Em sonhos múltiplos. Em amores múltiplos. Em humores múltiplos.

Eu só poderia ser mulher… eu tenho a forma, os medos e avidez insaciável de uma mulher. E isso não é pecado, só um convite.