terça-feira, 23 de fevereiro de 2010


Traição é quem deveria ser pecado capital, estadual, espiritual, tanto faz. Como posso eu ser pecadora em ira se me acertam inesperadamente sem qualquer defesa? Sou louca, hiperbólica, extremista, ira, sou sim. Sou o não, a o tremor, o nervo, mas sou.
Sendo acredito que qualquer um outro, ainda que mais sensato, seja também. Não se ilude quem é, mesmo sendo eu. Não escolha ser para quem quiser sem que eu, no auge de minha ira, possa também escolher.
Depois dizem que a ira é cega. Digo-lhes, porém, que cega nunca fui. Ando somente sentindo com olhos, deixando que me sintam também inteiramente nua, inteiramente ira.
Loucura são esses pecados espalhados por aí vestidos de tantos panos e tantas faces, embriagados de tantas palavras vazias. Loucura.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Beco de três mãos


O beco era o mesmo de tantas idas e vindas de rostos encantadamente peculiares. Uma única luz dava alguma visão nas primeiras pedras alinhadas com duas ou três casas nos arredores. Poucos passos à frente a única visão vinha do brilho da lua, quando tinha.
Ela estava lá, não cheia, mas lá. Elas se encontraram. Uma tinha ido experimentar o primeiro ar puro do dia, o silêncio, os pensamentos. Outra quis o céu como testemunha para o último cigarro do mês, outra foi, apenas, sem alimentar nenhum motivo aparente.
Olharam para a lua simultaneamente sem saberem, a princípio.
Ela sentou numa das pedras justaposta à outra; ela acendeu um cigarro ainda de pé; ela apareceu dando os últimos passos.
Escolheram não se olhar, não precisaram, quem sabe. Ainda com o cigarro aceso ofereceu um à da esquerda, entregando mais um à que chegava à direita.
Três tragos foram sentidos numa desarmonia tão harmoniosa não sentida há alguns meses, anos para hiperbolizar. Tanto fazia ali, diante de tantas estrelas.
Trialogavam no silêncio costumeiro dos becos não tão perdidos assim como se não fosse preciso ir além. Não era preciso.
Ela respirava a melancolia dos amores, de seus porres, suas mulheres. Ela exalava o intenso dos seus amores, seus sexos, seus homens e mulheres. Ela descrevia as trivialidades sentidas por aí, dessas que a gente esquece de reparar.
Não sabiam se estavam no começo, se já se habituavam no futuro, ou se, apenas, apreciavam o presente.
Ira, Luxuria e Vaidade escolheram não se olhar, nunca precisaram.