quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Doce ira
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
O (auto) elogio da Vaidade
Sou vaidade, e espero que o prazer seja todo seu. Não quero incomodar, mas já que seu interesse por mim parece verdadeiro, permita-me contar meu drama.
Reparou em como me visto, como me pinto, como me porto? São gestos programadas para não decepcionar. Tudo feito para encantar, e percebo que nisso obtenho êxito. Esforço-me tanto em meu sublime objetivo e agora deram para vulgarizar meu nome. Vaidade daqui, vaidade de lá, moça vaidosa, rapaz vaidoso e coisa e tal. Pintou o cabelo, fez as unhas, pronto. Culpa da vaidade! Vejo que chega a hora de pedir: por favor, não me magoe confundindo-me com mera futilidade.
Quem me julga leviana nunca teve ao seu lado uma dama como eu, vaidade. Só quem dorme e acorda em minha companhia sabe a dor que é querer mostrar ao mundo sempre o seu lado mais belo. Espelho é meu símbolo, num descuido viro narcisismo e então tudo se perde. Mas enquanto vaidade, minha missão é refletir o que de belo há por aí, esconder o feio, o imperfeito, mostrar que estou sempre jovem, sempre alegre, pele macia e olhos brilhantes. Que difícil tarefa a minha! Entenda: eu só quero o meu bem. E o seu.
Se ainda assim você não me compreender, dispenso maiores explicações. Sabe como é, sou a filha do orgulho. E se meu querido pai conhece seu mérito e calado o aprecia, eu faço as vezes de mostrar ao mundo o melhor que posso ser. E assim, fazer o mundo refletir o que nele há de melhor. Eu digo: minha intenção é boa, você que distorce tudo. Culpa talvez da inveja, aquela moça tão calada que de longe nos observa, mas isso é assunto para um outro dia. Tudo bem, não importa, se você não compreende o que sou de verdade, vou embora. Deixou na sua lembrança meu sorriso mais bonito. E por mais que eu chore decepcionada, te pouparei a imagem dos meus olhos inchados.
domingo, 10 de janeiro de 2010
Prazer, Luxúria.
Todo mundo me conhece e sabe quando eu chego. Eu posso me vestir de todas as cores, ainda que eu prefira o vermelho. Carrego em mim a comunhão de todos os cheiros, mas me caracterizo por um: a mistura do teu corpo com outro corpo. Eu cheiro a prazer. Há, em mim, um gosto salgado que fica entre o suor e a lágrima, entre o sangue e o esperma, entre a sua língua e a outra pele. Eu estou em qualquer lugar: da saliva que escorre da boca quando vocês se beijam ao final do salto, que pisa sem pena no chão e avisa: Ela chegou.
Eu trago comigo o que há de mais bonito e mais feio no ser humano: eu machuco e dou prazer. Eu humilho, ofendo, sujo as pessoas. Eu gosto de sujar o máximo que eu puder e sei que só assim as pessoas ficam verdadeiramente humanas, ainda que eu sorria de canto de boca com o espetáculo quase animal que eu causo. Por mim e para mim é que as pessoas gritam, choram, urram e gemem. Por mim e para mim é que as pessoas gozam; é quando eu me torno rainha.
Ninguém escapa, alguns tentam fugir mas de mim é impossível se esconder. Porque eu posso sair do meio das suas pernas e cruzar o seu corpo em um minuto. Eu posso morar em um olhar de desejo. Eu posso ficar nas suas longas unhas vermelhas por dias e, quando cansada delas, dormir alguns dias em outras costas, em forma de um arranhão: igualmente vermelho.
Gosto de rir das pessoas, destruindo as maquiagens, rasgando as roupas, quebrando os saltos e molhando as suas pernas. Porque eu gosto é de gente nua, vestida só de tesão e sede de outro, procurando no corpo alheio um gole de orgasmo.
Eu não obedeço a ninguém, eu não escuto ordens, eu não respeito regras. Eu sou mais antiga que o homem, mas antiga que Deus. Por medo de mim, ultimamente me deram um nome e uma classificação. Pecado? Pecado é não se deixar cair, com tudo e sem roupa, na minha mão.